Oportunidade de negócios
Em tempos de crise econômica mundial, Brasil e Canadá intensificam as relações bilaterais, reforçando a importância da realização de missões prospectivas e comerciais para impulsionar as importações e exportações
Cristina Braga e Ligia Molina
Mesmo diante da conquista do investment grade, dos recordes de investimento estrangeiro direto (IED), das descobertas na camada do pré-sal, entre outros, o Brasil – assim como todos os países dos cinco continentes – lembrará de 2008 como o ano da crise econômica mundial. Recessão, cortes de créditos, oscilações na bolsa de valores são alguns dos episódios que passaram a fazer parte do cenário econômico nos últimos meses. “Antes, a forma com que os bancos ganhavam dinheiro parecia mágica. Hoje, a especulação está presente em todos os lugares e move trilhões de dólares na ciranda financeira.
O problema é que agora ficou mais complicado especular”, diz Stephen Poloz, vice-presidente sênior de finanças da Export Development Canada (EDC), ao considerar difícil estabelecer números para o momento atual. “Certamente esta é a maior crise desde o início da década de 1980.
Ao mesmo tempo, percebe-se que há um forte componente psicológico atuando e isso impossibilita a previsão exata do comportamento do mercado”, completa.
Da lista de países mais prejudicados pela crise de Antoninho Marmo Trevisan, presidente do conselho consultivo da BDO Trevisan, constam os Estados Unidos, e os países da Europa e da Ásia. “Não sabemos ainda quem está em vantagem, mas, com certeza, os países que não participaram de forma intensa desta ciranda do sistema financeiro internacional podem se beneficiar”, analisa, justificando que o Brasil encontra-se nesta categoria.
“O país está no melhor estágio de sua história econômica, por meio da melhor distribuição de renda, do ingresso de novos consumidores ao mercado e das empresas com fundamentos financeiros estruturados”, esclarece.
Em meio a inúmeras previsões, empresas canadenses instaladas em território brasileiro mantêm firmes suas estratégias. Um dos exemplos é a Alta Genetics, cujo desempenho em 2008 foi considerado excepcional. “Foi um período de ótimas realizações para o setor. Superamos nossas metas em mais de 15%”, afirma Heverardo Rezende Carvalho, diretor da companhia no Brasil. Sem acreditar na estagnação do mercado em 2009, principalmente pelos resultados obtidos no ano passado, o executivo está ciente de que o crescimento da economia mundial será menor. “O setor acompanha a evolução do mercado, mas por outro lado tratamos de gêneros alimentícios de primeira necessidade”, esclarece.
Enquanto as perspectivas de alguns setores em relação à economia interna é otimista, Paul Molinaro, vice-presidente do Escritório de Representação do Scotiabank no Brasil, ressalta que, na percepção geral, o país encontra-se economicamente bem posicionado. “Mas ainda é possível que ocorra um abalo negativo provocado pela queda nos índices de exportação, setor que deverá sofrer em decorrência dos acontecimentos globais”, avalia. Segundo o executivo, os maiores perdedores até agora foram os investidores em ações e as empresas cujo acesso ao crédito foi reduzido. “O impacto direto da crise no Brasil e no Canadá foi menor em relação aos demais, resultado de seus sistemas bancários relativamente fortes”, acrescenta.
Dados do Consulado do Canadá em São Paulo revelam que, em 2007, o fluxo comercial entre Brasil e Canadá correspondeu a 4,9 bilhões de dólares canadenses.
O Ministro do Comércio Internacional do Canadá, Stockwell Day, acredita que o cenário promissor se manterá em 2009. “A economia sólida dos dois países motivará os negócios em parceria”, prevê. Alinhada a essa oportunidade, a Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC) e a Apex-Brasil promoveram, em dezembro de 2008, uma Missão Prospectiva ao Canadá, com o objetivo de identificar mercados em potencial. “O governo brasileiro destacou o país como prioritário em sua estratégia de exportação, o que intensificará as relações existentes”, explica James Mohr-Bell, diretor-executivo da CCBC. Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações brasileiras ao Canadá atingiram, no ano passado, mais de US$ 1,8 bilhão, enquanto a importação de produtos canadenses pelo Brasil foi de mais de US$ 3,2 bilhão.
Para ampliar esses números, além da CCBC e da Apex, representantes da Associação dos Fabricantes de Produtos Médicos e Odontológicos (ABIMO), da Sociedade Brasileira para Promoção da Exportação de Software (Softex) e da Associação Brasileira de Fundição (ABIFA) visitaram as províncias de Ontário e de Quebec durante a Missão Prospectiva. A experiência, de acordo com Irene Naomi Hiratsuka, business intelligence & international marketing manager da ABIMO, foi uma “grata surpresa”. Segundo ela, a especialização canadense em Pesquisa e Desenvolvimento pode beneficiar o Brasil. “Por outro lado, o Canadá não é especialista na comercialização de produtos desenvolvidos, sendo uma ótima oportunidade para as empresas nacionais”, acredita. Para a Softex, o mercado canadense de softwares não é novidade. Gláucia Chiliato, gerente do Projeto PSI SW, conta que a entidade já participou de feiras e de rodadas de negócios com o país. “Pretendemos incluir o Canadá na lista de mercados relevantes da Softex e estimular a participação de companhias brasileiras em eventos realizados em território canadense”, diz a executiva, ao avaliar que a missão “permitiu retomar o contato com este potencial parceiro”.
Mais do que reforçar a parceria tecnológica, Bernardo Silva, gestor da Apex para a América do Norte, acredita que os negócios para setores como alimentos, bebidas, móveis e materiais de construção serão impulsionados. “O mercado canadense é pouco explorado e os ganhos com o crescimento de nossa atuação no país podem ser consideráveis”, explica. Silva acrescenta que a Apex agora estreitará as relações com o governo do Canadá, a iniciativa privada e as entidades ligadas ao país, como a CCBC. “As missões comerciais ajudam a identificar novas oportunidades de negócios e a quebrar paradigmas que hoje são barreiras de entrada de nossas empresas no país”, acrescenta. Roberto Del Papa, diretor-comercial da Indústria Metalúrgica FRUM concorda: “A missão nos permitiu conhecer melhor o mercado canadense e as entidades que fornecem informações sobre o país”, diz.
Se o Brasil pretende intensificar suas relações com o Canadá, o mesmo pode-se dizer sobre os canadenses. Nos últimos anos, a relação comercial entre o país e a província de Quebec está em ascensão, segundo o Escritório do Governo de Quebec em São Paulo. “Um dos principais instrumentos para isso são as missões comerciais, que apresentam as possibilidades existentes no Brasil para companhias que jamais teriam acesso a essas informações”, diz Jose Castro, assessor comercial da entidade. De acordo com ele, companhias quebequenses começam a se conscientizar sobre a importância de diversificar seus mercados-alvo, já que muitas têm sua produção praticamente destinada aos Estados Unidos. “A Missão Prospectiva da CCBC é muito importante para ampliar esta relação, pois, além de aumentar positivamente a visibilidade do Brasil em Quebec, cria fortes laços com as instituições da província, o que é fundamental no processo de fomento ao comércio bilateral”, diz.
Em 2009, Castro conta que os planos do Escritório do Governo de Quebec em São Paulo prevêem a continuidade do apoio às companhias interessadas em trabalhar com o Brasil. “Além disso, já temos prevista a realização de missões importantes que vão auxiliar a consolidar os vínculos estabelecidos. Mesmo em tempos turbulentos, identificamos ótimas oportunidades de negócios nos setores de Tecnologia da Informação, mineração (em equipamentos e serviços), telecomunicações, aeronáutico (em peças) e florestal (em equipamentos e serviços), que potencializarão a relação entre os dois países”, conclui.
Via de mão dupla
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as exportações brasileiras ao Canadá corresponderam, em 2008, a US$ 1.866.170.747,00, enquanto a importação de mercadorias canadenses pelo Brasil foi de US$ 3.209.883.255,00. Conheça os principais produtos comercializados pelos países no ano passado:
Exportação Brasil-Canadá | ||
Produto | Product | Valor (em US$) | Amount (in US$) |
Alumina calcinada | Calcinated alumina | 459.670.291 |
Açúcar de cana | Sugar from sugarcane | 216.102.212 |
Aviões / veículos aéreos | Aircraft / airborne vehicles | 126.114.112 |
Automóveis | Automobiles | 106.229.214 |
Minério de alumínio | Aluminum ore | 66.694.877 |
Importação Brasil-Canadá | ||
Produto | Product | Valor (em US$) | Amount (in US$) |
Cloretos de potássio | Potassium Chlorides | 1.244.391.232 |
Enxofre a granel | Sulphur in bulk | 395.652.418 |
Outras hulhas | Other minerals | 240.215.959 |
Papel jornal | Newspaper paper | 197.334.670 |
Trigo | Wheat | 106.680.071 |