* Tradução de inglês para português e/ou português para inglês;

* Especialista em termos técnicos, incluindo todas as áreas de Biologia e Medicina;

*Tradução de resumos (abstracts);
* Mais de 15 anos de experiência;
* Clientes em todo o Brasil e no exterior, atendendo estudantes, escritores e empresas;
* Orçamentos sem custo ou compromisso;
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"...a tradução, quando praticada como se deve, não é mera profissão, mas arte, vocação, destino. As qualidades do bom tradutor são, em grande parte, as mesmas do bom escritor: inteligência, talento, gosto seguro, bom senso, imaginação, senso de harmonia..."

Paulo Rónai in À Margem das Traduções

Profissão: Tradutor

Torre de Babel
Bia Peine e Daltony Nóbrega

O nascimento da tradução em uma versão alegórica
Uma das histórias mais interessantes que a mente humana já criou se passa na Babilônia, algum tempo depois do dilúvio. Ela conta que os descendentes de Noé tinham mania de grandeza e resolveram criar um edifício altíssimo, o Empire State da época. Nunca ninguém tinha feito nada tão alto, tão ambicioso. Nós conhecemos essa construção por seu nome bíblico: Torre de Babel.
O maior problema do empreendimento era a intenção dos construtores. Eles queriam que seu edifício tocasse os céus, para poderem homenagear e adorar aqueles deuses estranhos que proliferavam na Antiguidade. No céu, observando todo esse movimento, Javé, o deus dos hebreus, achou que assim já era demais, que isso era um desafio inaceitável, muita ousadia do ser humano. Decidiu então tomar uma atitude drástica e, para castigar os homens, misturou as falas e criou dúzias de idiomas, de forma que uns não entendessem mais os outros.
Dito e feito. Em Babel, ninguém mais conseguia se comunicar. No início, a família de Noé deve ter tentado passar instruções aos mestres-de-obras. Provavelmente, estes faziam de conta que tinham entendido, mas era só para não perder o emprego. Coisa de funcionário público. Os mestres voltavam ao canteiro e davam uma ordem qualquer aos escravos, mas ninguém obedecia, nem debaixo de chicote, pelo simples fato de que era impossível compreender o que eles estavam falando. Depois de algum tempo, os mestres devem ter desistido de dar ordens e, para encurtar a conversa, já chegavam batendo. Mais prático. Gritaria, pancadaria, caos total. Dá para imaginar que foi aí que certos povos adquiriram o hábito de falar gritando.
Nem é preciso dizer que a obra foi abandonada e a Torre ficou pela metade. Se fosse hoje, a família de Noé contrataria a McCann Erickson e ganharia muito dinheiro vendendo escritórios no “maior edifício inacabado do mundo, o Tor de Bab”.
Falando sério, esse mito interessantíssimo está na Bíblia, no livro do Gênesis, e tem pelo menos um grande mérito: as pessoas acreditaram nele. Já que sempre foi proibido ou perigoso questionar o sobrenatural — Salman Rushdie que o diga —, para muitas pessoas e muitas gerações, isso foi e tem sido suficiente para explicar a enorme diversidade das línguas.
Mas o importante para nós não é saber por que há tantas linguagens no mundo; é analisar o impacto do evento sobre os negócios na região e estudar as possíveis conseqüências desse embaralhamento dos idiomas. A empreiteira responsável pela Tor de Bab, é claro, iria à falência ou daria um calote nos compradores, mas... e o resto? Com isso em mente, prepare-se para nos acompanhar em uma viagem. Transporte-se no tempo e no espaço, sinta-se na Babilônia e pergunte a si mesmo: numa situação dessas, depois que passasse o susto e a poeira baixasse, o que faria uma pessoa com vocação para os negócios?
Precisamos pensar um pouco a respeito. Como tirar proveito desse caos? Nosso palpite é que, sem dúvida, a melhor maneira de aproveitar a situação era criar a primeira empresa de tradução. Seria uma grande idéia e assim, devido àquela intervenção divina, surgiria uma profissão novinha em folha. Literalmente, graças a Deus.
O Gênesis não entra em detalhes, mas tudo leva a crer que essa empresa deve ter existido. Nada mais lógico, mais óbvio, mais esperado, já que o ser humano sempre descobre um jeito de usar as adversidades a seu favor. Podemos então fazer algumas suposições e criar nossa própria continuação para a história: Torre de Babel II, a Missão. Pelo menos em tese, a coisa pode ter acontecido da forma que se segue.
Torre de Babel, de Pieter Bruegel
Diante daquele caos terrível, todos ficaram desesperados para encontrar outros que falassem a mesma língua. Um deles, muito calmo e cerebral, em vez de ficar apenas reclamando e arrancando os cabelos como os demais, viu que era preciso fazer alguma coisa. Se não chegou a ser um tradutor, pelo menos pôs ordem na bagunça e, com isso, tornou-se o precursor do ramo. Organizadíssimo, foi catalogando todo o mundo e classificando as pessoas conforme o idioma que falavam. Agindo assim, agrupou e batizou italianos, ingleses, franceses, judeus, espanhóis - e até gente do Novo Mundo, que ainda não tinha sido descoberto: brasileiros, americanos... (Já que essa parte da história é nossa, podemos inserir quem a gente quiser, certo?)
Os grupos então se reuniram, gerando uma espécie de DesOrganização das Nações Unidas – a desONU. Entretanto, como uns não se entendiam com os outros (os povos, não importa a época, são incorrigíveis), foram indo embora, cada um para o seu canto.
Mas nem todos. Uma boa parcela achou tudo aquilo muito interessante e ficou por ali mesmo. Hoje seriam chamados de empreendedores, altos executivos, homens de visão. Eles estavam vislumbrando, apesar de todo o imbróglio, uma nova oportunidade de negócios. Foi assim que algumas vocações começaram a se revelar, conforme suas novas “nacionalidades”.
O grego, o homem mais culto da cidade, cuidou do aspecto filosófico e de criar as primeiras regras. O italiano, muito engenhoso e comunicativo, reuniu um grande número de estudiosos, que mergulharam no assunto e se tornaram os primeiros tradutores da história. O francês, bem cartesiano, achou ilógico dar tanto poder a um bando de estudiosos desmiolados e criou uma equipe de controle — eram os revisores. O inglês logo percebeu que tradutores e revisores eram todos farinha do mesmo saco e calculou que precisava de alguém neutro para coordenar o serviço: inventou o gerente de projetos. O árabe encarregou-se pessoalmente da administração, e o judeu, esperto, foi cuidar do entra-e-sai de dinheiro. O brasileiro, que tinha acabado de chegar e só estava de passagem, viu a operação à distância e ficou pensando em um jeito de fazer a mesma coisa com menos recursos.

Enquanto isso, o americano acompanhava calado cada passo, cada decisão. Um dia, quando achou que a coisa já estava funcionando bem, reuniu o grupo, fez uma oferta irrecusável e contratou a turma toda. Para completar a equipe, chamou um cientista alemão, que ficou encarregado de criar um equipamento para facilitar as operações. Alguns anos mais tarde, o americano exportou o software, o hardware e o processo para o mundo inteiro. Ficou bilionário.
Você pensa que a história terminou? Engana-se. Tempos depois, um empresário lançou no mercado uma encantadora miniatura do tal equipamento. Era japonês, é claro. Enriqueceu com isso e viveu na fartura por muito tempo, até o dia em que seu vizinho chinês, que tinha uma enormidade de filhos, pôs a filharada para trabalhar e criou um genérico muito mais barato.
E ainda faltava um personagem, importantíssimo, que não fazia parte da empresa de tradução. Era o teórico. Talvez valha a pena explicar: teórico é aquele sujeito que poderia se aprofundar em alguma função, mas é mais esperto do que a maioria e sabe que falar de trabalho é muito melhor do que trabalhar — exatamente o que estamos fazendo agora! O teórico observa bem o serviço dos outros, até experimenta um pouco (só para ver como é que é), descobre como a coisa funciona e então lança uma teoria qualquer. Foi o que ocorreu em nossa Torre de Babel II. Ele apareceu, acompanhou tudo, criou uma teoria e bolou um nome bem chamativo: desbabelização. Com base nisso, publicou vários livros, ficou famoso e deu muitas palestras em todo o mundo, difundindo a necessidade de “desbabelizar” as comunicações.
Tor de Bab, empreendimento imobiliário contemporâneo de alto luxo

Com isso ele queria dizer que, se o mundo quisesse mesmo se comunicar, precisaria falar a mesma língua. A tese era boa, mas nem um pouco realista, pelo menos para aquela época. “Falar a mesma língua” era um sonho cada vez mais difícil de acontecer, porque os grupos que saíram da Babilônia foram descobrindo novos lugares, atravessando oceanos e se espalhando por todo o planeta. Os povos iam morar em regiões cada vez mais distantes e não raro ficavam inteiramente isolados uns dos outros.
Assim, cada grupo humano fazia suas próprias descobertas e criava novas palavras, que os outros grupos nem conheciam. Afinal, pense bem, como é que um tuaregue, no calor do Saara, poderia imaginar um iglu? E um esquimó, com todo aquele frio, inventaria o ar-condicionado? Não, é claro. Por essas e por outras, a diferença entre os idiomas foi se acentuando.
Saindo do terreno da ficção e voltando ao mundo real, vemos que no passado, como não havia comunicação constante e eficiente entre os países, qualquer palavra que fosse criada por um grupo demorava muito tempo para chegar aos demais e, pior que isso, ia mudando à medida que viajava pelo mundo: “tavola”, do latim, virava tábua, tavola, table (com diferentes pronúncias em inglês e francês). Até hoje isso acontece, e as palavras continuam viajando de um idioma para outro, agora mais do que nunca. Algumas chegam a pontos extremos: nascem em uma língua, migram para outra e voltam para casa modificadas.
Um bom exemplo disso é outra palavra latina, o verbo “delere”, que significa “apagar” e foi assimilado pela língua inglesa como “delete”. Atualmente, embora o português, que é uma língua neolatina, tenha um verbo correspondente (“delir”), ninguém o usa. No entanto, com a fortíssima influência norte-americana na área de TI, é comum ouvir brasileiros dizendo que vão “deletar” um arquivo.
Portanto, o cenário atual mostra uma situação totalmente peculiar, inédita. A tecnologia avançou absurdamente nos últimos anos e conseguiu gerar um nível de comunicação que há um século seria impossível supor. Nunca, em toda a história, foi tão fácil conversar com alguém do outro lado do planeta, e não apenas isso: hoje você pode ver e ouvir a pessoa com quem está conversando, trocar documentos eletronicamente, informar-se sobre praticamente qualquer fato ocorrido em qualquer lugar da Terra e estudar qualquer assunto que já tenha sido abordado na Internet.
A distância não é mais problema. O fuso horário não é mais problema. A dificuldade de transmitir informações entre lugares e culturas diferentes é coisa do passado. Só uma barreira continua difícil de transpor: a dos idiomas. Daí a importância crescente dos profissionais de tradução.
É bem verdade que está ocorrendo certo grau de aproximação entre as línguas de todo o mundo. Há quem diga que um dia tudo se resumirá a um idioma único, mistura de todos os outros. Aliás, podemos até nos adiantar e criar desde já a nova língua: o alesporfrajachiglês. Já estamos aceitando doações e patrocínio para começar as pesquisas...
Nessa aproximação crescente entre os idiomas, eles estão importando termos entre si em um volume sem precedentes. Todas as soluções engenhosas de uma língua são adotadas imediatamente pelas outras. De repente, sem perda de tempo. E sem a menor cerimônia. É lógico que há excessos, mas de modo geral há um processo muito saudável de contaminação mútua acontecendo diante de nossos olhos.
Com toda a certeza, se a cadeira — esse objeto tão comum — fosse criada hoje, não teria dezenas de nomes em dezenas de línguas. Não seria cadeira, chair, chaise, sedia, silla, stol, stuhl. Seria, simplesmente, cadeira, com pequeníssimas variações.
Isso mostra com uma clareza estonteante a importância de nosso setor nos dias de hoje. A tradução, localização, internacionalização, regionalização, qualquer que seja seu nome, tornou-se uma peça fundamental na chamada “globalização”, facilitando e agilizando a troca de conhecimento. O setor, na verdade, tornou-se tão importante que as pessoas perceberam que o próprio conceito de “tradução” estava ultrapassado e era insuficiente para designar o processo. Mesmo que não fosse, o termo estava desgastado por centenas de anos de uso e o setor precisava fazer alguma coisa para demonstrar que também evoluiu e se aperfeiçoou.
Segundo esse raciocínio, “traduzir” estava muito identificado com a idéia de simplesmente passar as palavras e frases para outro idioma, sem nenhum compromisso com a fluência e a fidelidade ao original. Mais recentemente, tornou-se imperativo mudar o foco. Era preciso reinventar a profissão. Afinal das contas, nós somos os profissionais de um novo tempo.
Os textos agora têm de ser tratados como qualquer outro produto moderno: em vez de simplesmente transportá-los de um lugar para outro, agora temos de entregá-lo ao público em uma embalagem personalizada. Terminou a era da tradução enlatada, impessoal. No século XXI, traduzir exige um esforço extra, mais pesquisa e mais conhecimento. A idéia agora é captar, entender o que foi dito no idioma de origem e interpretar, adaptar para o idioma e para a região de destino. O verbo “traduzir” deu lugar ao verbo “localizar”, visto por um novo ângulo. O texto deve parecer escrito originalmente no idioma de destino.
O filósofo romano Cícero disse algo assim: “Não basta à mulher de César ser honesta; ela tem de parecer honesta.” O mesmo ocorre com a tradução moderna. Não basta estar em português; tem de parecer português. Não basta estar em inglês, tem de parecer inglês.
O tradutor hi-tech não usa lápis, caneta, borracha, papel nem máquina de escrever; usa computador. Não trabalha solitariamente; está conectado com banda larga à rede mundial de computadores. Tem gramáticas e dicionários impressos (essa coisa antiga...), mas usa uma infinidade de fontes eletrônicas de informação. O tradutor do século XXI não traduz; localiza.
Esta é a verdade: uma parte significativa da incrível troca de informações que existe atualmente só é possível porque um bando de estudiosos desmiolados — nós — trabalha incansavelmente em todo o mundo para levar as idéias de um grupo ao outro, de um idioma ao outro, de um povo ao outro. Minuto após minuto, dia após dia, em alguma parte do planeta, sempre há milhares de tradutores e revisores entregues à tarefa de, digamos, desbabelizar o mundo.
Bia Peine vem estudando algumas coisas ao longo da vida: um pouco de arquitetura, um pouco de idiomas, programação de computadores e outras coisas mais. Daltony Nóbrega também andou ciscando aqui e ali, em computadores, administração, letras, música... Ambos trabalharam em teatro e televisão. Ele criou programas na TV Globo, a maior do país. O casal desenvolveu — e ela dirigiu — o departamento de Internet da Band, outra grande rede de televisão no Brasil. Planos para o futuro: os dois, quando crescerem, querem ser tradutores.


Algumas das empresas para as quais presto serviços de tradução regularmente, diretamente ou via agências de tradução de mais de 10 países em todos os continentes:





'À Margem das Traduções' é uma compilação de vários artigos escritos por Agenor Soares de Moura e traz análises críticas de traduções de autores consagrados - como Edgar Allan Poe, Thomas Mann, Alexandre Dumas, entre outros. É uma importante obra de referência, não apenas por apontar falhas comuns nesse tipo de trabalho, mas, principalmente, por estruturar um modelo de como se deve ou não traduzir, citando nomes consagrados de nossa literatura - como Monteiro Lobato e Érico Verissimo.

Novo Acordo Ortográfico


NÃO É REFORMA, MINHA GENTE, É SÓ UM ACORDO!

Marcos Bagno - Novembro de 2008

Me espanta sempre a falta de criatividade (se é esse o nome do problema) dos jornalistas quando o assunto é língua. Existem temas interessantíssimos e questões cruciais para a compreensão das complexas relações entre língua e sociedade, mas esses profissionais da mídia só querem tratar do óbvio. E, para piorar, não lêem o que seus colegas publicam, procuram os especialistas (ou os falsos especialistas, na maioria dos casos) e perguntam as mesmas coisas, para obter as mesmas respostas já impressas e reimpressas. Como sou um dos rarissíssimos lingüistas brasileiros que descem da torre de marfim acadêmica e dão a cara a tapa na divulgação científica e na disposição ao debate em terreno leigo (só consigo pensar num único outro colega que também faz isso, Sírio Possenti, da Unicamp, em suas colunas semanais na internet), recebo todos os dias pelo menos um pedido de entrevista. E todos só querem saber de três entidades fabulosas: a "reforma" ortográfica (que não existe); o "gerundismo" (que também não existe) e a "língua" da internet (que existe tanto quanto a mula-sem-cabeça). As palavras empregadas já indicam, de saída, a absoluta falta de informação de quem faz as perguntas. Com isso, num exercício de paciência que, espero, vai acumular pontos no meu cartão-fidelidade para participar da comunhão dos santos, tento, primeiro, desmontar as perguntas para depois responder. Haja!

A quantidade de declarações infelizes, quando não francamente burras, que circulam hoje em dia sobre a questão ortográfica mereceria uma boa investigação sociológica. Por que esses discursos são tão refratários a qualquer racionalidade mínima? Por que é que pessoas, aparentemente inteligentes, têm coragem de dizer que a partir de agora não vamos mais dizer "lingüiça" mas "linghiça", porque o trema foi abolido? Que a supressão do acento em "ideia" vai dificultar saber se a vogal tônica é aberta ou fechada? Ora, não existe acento que diferencie "velha" de "telha", "a corte" e "o corte", "a cerca" e "ele cerca", e no entanto ninguém confunde o grau de abertura das vogais tônicas dessas palavras. Vamos estudar um pouquinho, gente?

Antes de tudo, é preciso bradar aos quatro ventos que não se trata de uma "reforma", mas simplesmente de um acordo que elimina as pequeninas diferenças que existem entre as duas convenções ortográficas que vigoram no mundo de língua portuguesa: a brasileira e a lusitana, que impera em Portugal e nos demais países ditos lusófonos. Uma reforma, para merecer esse nome, implicaria em alterações radicais na aparência escrita da língua, como aconteceu, por exemplo, em 1945, quando "physica" virou "física" e "rhythmo" virou "ritmo". Nada disso está sendo proposto agora. São apenas alguns poucos acentos gráficos que deixarão de ser usados, junto com o trema (que, pelo amor de Deus, não é um acento!), além de uma regulação do uso do hífen. Com isso, somente 0,5% das palavras escritas em português brasileiro sofrem alguma alteração. É muito, muito pouco para alguém falar de "reforma". Mas muita gente fala! Perdoa, Pai, eles não sabem o que fazem...
Para não repetir o que já foi dito por outras pessoas mais competentes do que eu, remeto os leitores a dois textos primorosos, facilmente acessíveis. O primeiro é de José Luiz Fiorin e está disponível no meu site (www.marcosbagno.com.br) com o título "E agora, Portugal?". O outro é de Carlos Alberto Faraco e está no site do Museu da Língua Portuguesa (www.estacaodaluz.org.br) com o título "Uma mudança necessária".
Nesses dois textos, o que se destaca é a análise política que eles fazem do Acordo. É essa que deveria interessar aos jornalistas, e não as novas regras de acentuação, que são pouquíssimas e podem ser aprendidas de cor em meia hora. Como escreve C. A. Faraco, "Portugal transformou a duplicidade de ortografias num instrumento político para embaraçar a presença brasileira seja nas relações com os demais países lusófonos, seja na promoção internacional da língua". E é isso mesmo. Muita gente naquele país totalmente desimportante na geopolítica global teme que o Brasil assuma, de fato e de direito, as rédeas na condução dos destinos da língua portuguesa no mundo, como se isso não fosse inevitável. Com o apego à ortografia que vigora lá e nos demais países, Portugal impede a livre circulação de material impresso no Brasil, sobretudo livros didáticos e dicionários; não reconhece os diplomas de proficiência em língua portuguesa que nós expedimos; exige que os organismos internacionais publiquem todos os seus documentos segundo as normas da grafia instituídas por lá etc. Trata-se de uma política lingüística tacanha, que tenta encobrir o sol brasileiro com a peneira minúscula da ortografia lusa. No Brasil vivem 90% dos falantes de português de todo o mundo. O português brasileiro (e não simplesmente "o português") é a terceira língua mais falada no Ocidente (depois do espanhol e do inglês). Se todos os habitantes de Portugal e dos outros países "lusófonos" (que de lusófonos não têm nada: neles só uma minoria fala português) deixassem de usar a língua, ainda assim essa posição do português brasileiro não se alteraria no panorama lingüístico global.

Defender a validade e a necessidade do Acordo ortográfico é defender a importância do Brasil e do português brasileiro no cenário mundial. É conferir auto-estima a um povo que, há meio milênio, vem sendo acusado de "arruinar" o "idioma de Camões". Arruinamos mesmo, pronto, e daí? Mas é sobre essas ruínas que estamos erguendo uma língua surpreendente, que deixa os lingüistas fascinados com as inovações sintáticas que estamos introduzindo, uma língua que é a cara do nosso povo, como têm quer ser (e de fato são) todas as línguas do mundo.


Artigo de Marcos Bagno (Lingüista, professor da UNB - Universidade de Brasília) publicado na Revista



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